Introdução
Ao longo deste trimestre, estudaremos a Carta de Paulo aos Gálatas. Escrita no primeiro século da nossa era, essa correspondência foi enviada aos crentes da região da Galácia e buscou mostrar aos seus leitores a importância da liberdade cristã e a suficiência do Evangelho. Eram homens e mulheres que haviam sido alcançados pela pregação e o ensino da salvação oferecida por Jesus, mas que, em algum momento, se deixaram levar por ensinos diferentes dos que haviam recebido, e estavam se afastando do plano de Deus para as suas vidas. Rever os ensinos do apóstolo nesta Carta pode nos fazer refletir a respeito da importância de valorizar o sacrifício de Jesus e não nos deixar levar por ensinos estranhos, que buscam colocar o esforço humano como um substituto à graça de Deus.
1- O contexto.
O Evangelho de Cristo se espalhou pelo Império Romano quando judeus e estrangeiros ouviram a sua mensagem e receberam Jesus em seus corações. Essa divulgação se deu pelo testemunho de irmãos judeus que fugiram de Jerusalém por conta da perseguição, mas também se deu por conta do trabalho específico de obreiros como Barnabé e Saulo, que foram enviados por Deus, e pela igreja, às nações gentias como missionários. Essa fase inicial da igreja é apresentada no livro de Atos dos Apóstolos. Mas a história da igreja não se resume aos relatos de Lucas, que inspirado pelo Espírito Santo, registrou os acontecimentos relativos às atividades missionárias. As cartas dos apóstolos também trazem informações que nos mostram outros acontecimentos nesse período. Muitos gentios se tornaram cristãos, e com o aumento deles entrando na igreja, crendo que a salvação prometida por Cristo vinha pela fé, surgiu o que vamos chamar de “choque cultural”: um grupo de judeus, que também tinha crido em Jesus, passou a ensinar que a Salvação dependia também da guarda da Lei de Moisés. Jesus era judeu, e guardou a Lei, sujeitando-se a ela. Portanto, todos os seus seguidores deveriam também passar pelo mesmo rito. Esse grupo é denominado de judaizantes, e como veremos, deu trabalho por onde passava, pois seu ensino, de forma praticamente imperceptível aos gálatas, enfatizava o esforço humano como um auxiliar à graça de Deus.'
A Carta aos Gálatas foi escrita com o objetivo de alertar aqueles crentes acerca do perigo que estavam correndo por acrescentar à mensagem do Evangelho a prática da Lei de Moisés. Eles já haviam crido nas Boas-Novas, e não era necessário agregar às suas vidas nenhum dos elementos da lei que Deus dera aos hebreus por ocasião da sua saída do Egito. Isso pode estar claro para nós, leitores do século XXI, mas para os crentes gálatas, não. Devemos nos lembrar de que no primeiro século havia circulado pelas igrejas pessoas que introduziram doutrinas diferentes das que eram ensinadas pelos apóstolos, e que por isso as igrejas precisavam ser lembradas do verdadeiro Evangelho e de suas práticas. Deus usa o apóstolo Paulo, um homem de formação intelectual farisaica, mas devidamente convertido a Jesus, para orientar os leitores de que a Lei de Moisés havia sido dada por Deus aos hebreus, e não aos gentios. Como veremos posteriormente, a própria igreja de Jerusalém já havia traçado parâmetros para que o Evangelho fosse apresentado entre os gentios, sem a necessidade da circuncisão (At 15.28,29). A partir desse ponto, trataremos a palavra “circuncisão” como um sinônimo da guarda da